segunda-feira, 13 de julho de 2009

Traduzir é trair?


Muitos dizem que traduzir é trair e apresentam sempre a seguinte fórmula: TRA(DUZ)IR. É claro que existem muitos problemas com tradução e, muitas vezes, se perde bastante com ela, mas todo tradutor opta por certa palavra em detrimento de outra tentando diminuir seu efeito negativo e transformá-la cada vez mais em uma 'transliteração' e cada vez menos em um exercício de reescrita. Poderia citar mil exemplos, mas vou citar apenas dois: as poesias de Nietzsche e a obra de Freud.

Na verdade, toda tradução da língua alemã para o português passa por um processo de deterioração e são necessárias muitas notas do tradutor para entendermos certos termos, principalmente se forem da filosofia. Os poemas de Nietzsche foram escritos com ritmo e rimas muito particulares. É tanto que a maioria das publicações em língua portuguesa são edições bilíngües, na tentativa de conservar a riqueza do original. Apesar disso, já li muitos livros que vêm do alemão e li ótimas traduções, como a de Sidarta, por exemplo, de Herbert Caro. Em contrapartida, encontrei péssimas traduções de livros que foram escritos em francês, cuja estrutura e cujo vocabulário se assemelham ao português.

Quanto aos escritos de Freud, muitos dizem que o apelo sexual excessivo encontrado em sua obra é feito dos tradutores, pois Freud não falava apenas de sexo, mas de uma energia já bem conhecida pelos orientais, chamada Kundalini. Bem, mas isso é, e acredito que sempre será, alvo de muita polêmica. O que gostaria de deixar bem claro é que: sim, a tradução pode ser um fator de empobrecimento da obra, principalmente se literária; mas, somente por ela tomamos conhecimento de um vasto mundo oculto em uma língua desconhecida ou podemos estudar os idiomas originais dos livros que desejamos ler.

Bem, a grande questão é que, apesar de tudo, a tradução é um meio bastante útil para tomarmos conhecimento dos livros que desejamos e é também uma oportunidade que temos para proporcionar e levar os grandes clássicos ao acesso de todos. Tudo isso que escrevi não é válido somente para a tradução literária, mas para todas as outras, sejam elas científica, técnica, geral, etc., porém em uma proporção bem menor, pois os termos técnico-científicos são, em sua maioria, originadas do latim ou são muito específicas e não apresentam problemas de interpretação, etc.; e, na tradução geral, a rima e o ritmo, ou seja, a forma, não interessa tanto quanto o conteúdo.

Para finalizar e deixar bem clara minha opinião sobre a tradução, uma frase de José Saramago: "Os autores escrevem as suas respectivas literaturas nacionais, mas a literatura mundial é obra dos tradutores".

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