segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Traduzir é trair? II


Em um dos primeiros posts do blog escrevi sobre esse velho trocadilho italiano traduttore-traditore e tentei expor a seguinte idéia: tudo bem que o tradutor seja considerado um traidor, mas sem tradução o mundo não seria o mesmo. Nossa, que poético! Mas é verdade se você conseguir imaginar algumas situações: como seria uma convenção da ONU sem as cabines dos intérpretes? Como seria termos que aprender dezenas de línguas para podermos ler a literatura universal? Como seria uma transação comercial internacional sem a intervenção de um intérprete? Realmente é difícil imaginar o mundo sem a profissão de tradutor, mas é muito fácil recriminar o profissional que cometeu um deslize, sem enxergar os benefícios dos inúmeros acertos cometidos. É melhor o tradutor passar despercebido a ser notado por uma falha. Eis nossa triste realidade.

Mas voltando ao nosso tema: o da traição. Eu tenho lido que, durante muito tempo, a tradução era vista como uma tentativa de cópia fiel de uma obra, sendo que em outro idioma. Essa última condição já contraria o que entendemos por fidelidade e não creio que os tradutores antigos tenham sido tão ingênuos em pensar que eram fiéis ao original, apenas alguns teóricos são infantis a tal ponto. A obra literária, o contrato, a letra de música, isso é, o texto, ganha novos os leitores para somar-se àqueles que o leram em sua primeira língua e ganha novas formas paralelas à original, transforma-se em esposo infiel do autor pelas mãos de um manipulador, de um traidor. Porém, essa manipulação não tem a intenção de afastamento, ela deseja aproximar-se de outros olhos, de outras pessoas que querem lê-lo, tê-lo em mãos para gozar do prazer de poder usufruí-lo, pois, depois de escrito, o texto não pertence mais ao autor e não cabe a ele ter ciúmes de algo que não lhe pertence.

Hoje, essa noção de que “ninguém é de ninguém” está cada vez mais clara. O tradutor não se preocupa tanto com a fidelidade, não por desprezar o texto original e querer melhorá-lo, mas por saber que essa é uma tarefa impossível. Ao compararmos várias traduções, perceberemos as escolhas e as diferentes ênfases que fazem da versão uma obra do tradutor. Sempre que lia um livro, tinha a preocupação de saber seu título original, em que língua foi escrita e de qual língua foi traduzida, agora ganhei mais fios brancos no cabelo, procuro sempre saber quem foi o traidor.


quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Mais música!


Antes de falar algo sério, sobre teorias de tradução e etc., por que não ouvir um pouco mais de boa música? Hoje me lembrei de uma música brasileira que ficou muito bonita em italiano: Samba em prelúdio, de Vinícius. Apesar do título literal Samba in preludio, as alterações feitas na letra não só se encaixaram perfeitamente na melodia, como também mantiveram o ritmo do poema. A versão italiana é extremamente musical, algumas metáforas foram mudadas, mas as suas intenções continuaram sendo praticamente as mesmas. Infelizmente o campo sem flores acabou deserto, a palavra desamor se perdeu e a solidão virou tristeza. Porém, acredito que essas perdas são inevitáveis em qualquer tradução e não merecem se transformar em críticas contra o tradutor (Bardotti), aliás, deve-se, inclusive, elogiá-lo por um grande trunfo: o verso Sem você, meu amor, eu sou ninguém, que em italiano não teria tanta sonoridade, principalmente por causa da última palavra (Senza te, amor mio, io non sono nessuno) transformou-se em Ho paura di vivere senza te. Na versão original, Vinícius rimou este verso com as palavras vem e além; na versão italiana, o tradutor rimou com me e com'è. É verdade que è não rima com te, mas percebam a astúcia de quem canta, que sempre fecha um pouco sua pronúncia, para forçar um pouco a rima. Bem, eu considero uma boa tradução, apesar dos pesares. Para que formem uma opinião, fiquem agora com Toquinho e Ornella Vanoni e fijam que não ouviram o chiado de Toquinho na palavra tristezza.

Samba in preludio

Io senza te
Ho perso anche me
Perchè senza te
Mi manca un perchè
Io sono una fiamma
E luce non dò
Io sono una barca
E mare non ho
Perchè sensa te
Rinnego l'amore
Uccido la vita
E canto il dolore
Tristezza che va
In cerca di me
Ho paura di vivere senza te

Ah, che bei giorni
I ricordi mi fanno sentire meno sola
Ho tanta voglia
Tanta voglia di averti con me
Le mie mani han bisogno di te
Ma sono triste
Non ha niente da darmi la vita com'e
La vita esiste
Ma ho paura di vivere senza te.



sábado, 15 de agosto de 2009

El porqué de la traducción


Por que a tradução é importante? O que faz do trabalho de um tradutor útil? Poderia relembrar a frase de Saramago que citei em um dos primeiros tópicos do blog: "Os autores escrevem as suas respectivas literaturas nacionais, mas a literatura mundial é obra dos tradutores", mas não o farei. É verdade que a tradução é muito mais vasta que a tradução literária, mas acredito que o seu principal papel seja transmitir cultura. Isso não significa que ela transmita exatamente o que o autor quis dizer, com as exatas palavras, mas que ela possibilita que conheçamos e tenhamos acesso a um novo mundo, a uma nova maneira de vê-lo. Claro que a literatura não representa a única ponte de acesso a um pensamento de outro povo. Uma música, um filme, um contrato, qualquer documento produzido no exterior apresenta traços da cultura de quem o escreveu. O desafio do tradutor é transpor essa barreira e trazer para um novo mundo, um novo texto. Sim, o tradutor traz ao mundo um novo texto, mas vou deixar isso para a próxima oportunidade.

Andrea Zipman, em seu texto que tem o mesmo título desta postagem, defende a idéia de que o bom tradutor ama o que faz e o mau tradutor busca apenas recompensas financeiras e profissionais. É claro que o amor é importante em qualquer área da vida, inclusive na profissional, mas apenas ele não é suficiente para concretizar uma boa tradução, é preciso muito estudo e dedicação para adquirir os conhecimentos necessários para realizar um bom trabalho. Pode acontecer que haja tradutores competentes que não amem traduzir, que não tenham amor pelo ofício, mas que tenham muita facilidade e muito conhecimento para se sair incrivelmente bem em sua produção. Eu até concordo que seja difícil existirem bons tradutores que não amem seu trabalho, mas vocês devem concordar comigo que nem todos aqueles que amam o que fazem dão conta do recado. Essa é uma questão interessante: até que ponto o amor é um fator essencial para se fazer uma boa tradução?

Vou deixar que vocês reflitam um pouco e vou dormir, pois já está muito tarde e estou trabalhando desde cedo. Na próxima postagem vamos falar um pouco sobre aquele velho trocadilho Tradutore-Traditore. Abraços a todos e agradeço a visita.


segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Línguas antigas I


Quero agradecer a todos que estão lendo o blog, fico muito feliz com as visitas e com os comentários. Hoje gostaria de falar sobre algo que me intriga bastante: o estudo de línguas antigas. Dentre elas, já arrisquei a estudar um pouco o latim, o sânscrito, o pali e bem pouco mesmo o hebraico. No hebraico, me concentrei mais nas traduções bíblicas e foi incrível encontrar diferentes versões da mesma passagem. Como sou vegetariano e sempre acreditei que Jesus, símbolo de amor e compaixão, poderia preconizar o vegetarianismo, busquei possíveis erros de tradução da Bíblia. É verdade que são muitos os equívocos e que existem muitas traduções e explicações para cada uma delas, então não me alongarei mais no tema, mas que sirva de exemplo um site que encontrei que discute um pouco o assunto. Bem, quanto ao pali, essa foi a língua que mais estudei, tive, inclusive, um caderno exclusivo para o idioma. Adorei traduzir diretamente do cânone algumas palavras do Buda, me atrevi a decorar algumas passagens e a recitá-las, fiquei bastante entusiasmado com os estudos e me arrependi por não ter comprado um dicionário que encontrei em um sebo em San Francisco, quando ainda nem imaginava estudar o pali. Devia saber que me interessaria.

Todas as traduções de línguas antigas exigem muitas pesquisas e um trabalho imenso, muito maior do que em uma tradução de um idioma moderno. Creio que não seja difícil entender o motivo. Além das mudanças naturais ocorridas na época em que esses idiomas eram falados, há ainda a interferência de descobertas históricas, que podem mudar o rumo de uma tradução “post mortem”. Já que toquei no latim, devo confessar que o mais impressionante nessas pesquisas lingüísticas é a recuperação do som do idioma, é tanto que o próprio latim pode ser pronunciado da maneira clássica ou eclesiástica. A pronúncia do sânscrito permaneceu porque ele ainda é utilizado em rituais religiosos na Índia e seu sistema de escrita vive no híndi. Muitos idiomas se perderam no tempo e alguns correm risco de extinção, é incrível que alguns ainda perdurem por tanto tempo e mantenham a maioria das suas características originais.

Admiro muito aqueles que se dedicam a essas línguas, mesmo sabendo que o único benefício será o aumento da sua cultura. Gostaria de ter essa coragem e dedicar minha vida ao estudo dos idiomas, mas são tantas as coisas a serem descobertas e tão pouco o tempo para descobrí-las. Quando era criança adorava física, química, matemática, astronomia, me trancava no quarto com livros ao som de música clássica e sob inspiração da seguinte frase colada com durex em minha escrivaninha:

“Jamais considere seus estudos como uma obrigação, mas como uma oportunidade invejável para aprender a conhecer a influência libertadora da beleza do reino do espírito, para seu próprio prazer pessoal e para proveito da comunidade à qual seu futuro trabalho pertencer.” (Albert Einstein)

É... Às vezes sinto falta daquele espírito que tinha, daquela poesia que vivia em minha vida. Continuo mantendo meu gosto pelos estudos, mas preciso recuperar aquele prazer enorme que havia em descobrir...


quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Músicas...


Quantas vezes você já ouviu alguma melodia de música estrangeira com a letra em português? E quantas vezes seu ouvido já doeu por conhecer a versão original e ver como a nova letra ficou horrível? Nossa, o meu dói o tempo inteiro. Sempre que estou na parada, esperando um ônibus, minha espera é embalada por uma belíssima trilha sonora que se resume ao forró. Se bem que, até alguns dias após a morte de Michael Jackson, era só ele que tocava. Pois é, estou falando daqueles carrinhos que vendem CDs piratas, os vendedores fazem questão de instalar um som para apresentar a sua mercadoria. É através deles e dos meus alunos que fico conhecendo as músicas do momento.
Outro dia estava lá, tranqüilo e satisfeito, quando começo a escutar: "Gira o mundo, gira / no espaço infinito / bla bla bla bla" em ritmo de forró. Eu pensei: "Não! Fizeram isso com um dos clássicos italianos! Que maldade!" Infelizmente não consegui a letra para mostrar a vocês, mas garanto que ficou horrível, que só reconheci pela melodia e por essas duas frases e sei que vocês não farão muito esforço para acreditar em mim. Meu dia mudou, fiquei arrasado pensando em quais seriam as próximas vítimas. Será que já não bastavam as versões de Sandy & Júnior?
Decidi que faria o estrago ao contrário: passei a traduzir as músicas que ouvia na parada para o inglês ou outra língua. "Duuust! Duuust! Duuust! It raised duust!" Essa foi só o início. Passei a fazer esse tipo de exercício com os meus alunos, mas eles nunca gostaram muito, o que me surpreendeu pela falta de curiosidade. Independente deles, sempre estou traduzindo mentalmente alguma música. É claro que não são apenas as músicas do momento, gosto de traduzir Chico Buarque, por exemplo. Falando nele, seus discos em italiano são excelentes. A tradução que mais aprecio é a de Roda Viva, que ficou Rotativa, em italiano. É óbvio que existem versões muito bem escritas, mas essas não escutamos em paradas...




sábado, 1 de agosto de 2009

O mercado e Eu


Bem, de repente me deu vontade de escrever um pouco sobre minha vida profissional. Tudo começou quando tinha acabado de sair do Ensino Médio, fiquei sem fazer nada durante algum tempo e decidi distribuir alguns currículos para ver se conseguia ensinar italiano, língua que estudo desde criança. Não esperei muito encontrar um emprego, mas pouco tempo depois chegou um e-mail me convidando para fazer parte de uma equipe de professores. Mal acreditei quando realmente me contrataram, nunca tinha dado uma aula sequer, aliás, já tinha brincado de ensinar italiano para meu irmão mais velho, mas nunca foi em sala de aula, com aquela pressão e etc. Hoje penso como quem me contratou foi louco, mas agradeço a ela até hoje.
Com umas confusões na minha família, separação dos meus pais e etc., fui morar nos EUA com minha mãe. Passei dois meses por lá estudando inglês e, quando voltei, resolvi que queria ensinar inglês também. Foi engraçado como consegui. Apresentei meu currículo ao SENAC para ensinar italiano, fiz todos os testes, fui aprovado e quando quiseram me chamar, não tinham aberto turmas novas para mim. Felizmente, tinha feito um teste de nivelamento para estudar inglês lá e acertei todas as questões. Então, o coordenador, que queria porque queria me contratar, me convidou para ensinar inglês. E foi aí que comecei. Ensinei para o SENAC e para a SKILL (meu primeiro emprego), tanto inglês quanto italiano. Hoje ensino para a Wizard: inglês, italiano e francês.
Durante esse minha looonga carreira de professor, uns 5 anos, apareceram algumas traduções para eu fazer, como é comum acontecer em escola de línguas. Aceitava alguns trabalhos e cheguei até a recusar alguns. Porém, este semestre, um belga me procurou onde ensino e me pediu que traduzisse seu curso de reeducação alimentar para o português e foi aí que tudo começou. Fiquei bastante empolgado com o trabalho e apareceram mais uns três textos na mesma época e resolvi investir meu tempo em tradução. Nunca fiz nenhum curso, mas pretendo fazer, apesar de já ter cursado uma disciplina de tradução em língua francesa na universidade. Hoje as coisas estão mais calmas, estou traduzindo apenas um texto do francês para o inglês, esperando, porém, que apareçam mais. Nunca imaginei que fosse um mercado tão difícil, mas estou caminhando vagarosamente e me divertindo bastante.

Agradeço a todos os meus professores e às pessoas que estão me dando força neste meu novo caminho (espero que não pare no começo). Tá vendo? Já tenho até a quem agredecer...


terça-feira, 28 de julho de 2009

Mysterious brain


Ontem, conversando com minha namorada, ela me contou que viu no Discovery Channel uma mulher que vivia apenas com metade do cérebro. Eu achei aquela história incrível e comecei a pensar o quão pouco sabemos sobre nosso próprio cérebro. Há mecanismos mais importantes que outros? Como desenvolvê-los? Em meio a tantas teorias que escuto, vejo que entendemos ainda pouquíssimo sobre este órgão (é até estranho chamá-lo de órgão).
Como ele funciona com relação aos idiomas? Às vezes, quando estou dando aula de inglês, e os alunos me perguntam como se diz tal palavra, respondo em francês ou em italiano. "Teacher, how can I say 'unha' in English?" "Ongle." O interessante é que estou falando em inglês, pensando em inglês e a primeira palavra que me vem à cabeça é francesa, mesmo conhecendo a palavra inglesa "nail". O funcionamento do cérebro é misterioso, principalmente o da memória. Tentamos com todas as forças lembrar de algo e, na maioria das vezes, não conseguimos, mas uma música de forró que odiamos fica em nossa cabeça durante muito tempo.
Há situações em que lembramos de certas palavras que nem imaginávamos conhecer, elas vêm de algum lugar secreto, que gostaríamos de acessar sempre que desejado, mas não é assim que acontece. É um mistério, a memória parece ser independente, ou talvez seja. A tradução é um fenômeno incrível, que já vem de outro acontecimento extraordinário: a aprendizagem de uma língua. Faço sempre a analogia de que aprender um novo idioma é como viver, é como aprender a lidar com pessoas completamente diferente de nós e também bastante parecidas, pessoas que pensam muito diferente e outras que parecem pensar conosco, pessoas que não entendemos o que falam e algumas que tiram as palavras de nossas bocas. É, as línguas são como as pessoas, vivas, sempre mudando e se adaptando ao ambiente.
O tradutor precisa partilhar desse mundo, viver nele, dele e com ele, precisa ter em mente que traduzir não é apenas conhecer as palavras em outro idioma, mas conhecer suas armadilhas, suas sutilezas, suas origens, o povo que a utiliza e também (e muito bem) a sua própria língua. Traduzir é desnudar as palavras e novamente vestí-las. Traduzir é ressignificar, remundear idéias e renová-las, reanimá-las e, orgulhoso dessas novas almas, apresentá-las ao mundo para que todos as apreciem.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

L'étranger - Albert Camus


Que ousadia a minha traduzir Camus. Eis o primeiro parágrafo ontológico traduzido:

Aujourd'hui, maman est morte. Ou peut-être hier, je ne sais pas. J'ai reçu un télégramme de l'asile : « Mère décédée. Enterrement demain. Sentiments distingués. » Cela ne veut rien dire. C'était peut-être hier.

Hoje mamãe morreu. Ou ontem, não sei. Recebi um telegrama do asilo: “Sua mãe faleceu. Enterro amanhã. Sentidos pêsames.” Isso não quer dizer nada. Talvez tenha sido ontem.

Optei por fazer uma tradução mais literal, para não tirar o minimalismo da expressão de Camus. O que acharam dessa? E da tradução anterior? Vocês já leram esses dois livros? Gosto muito desses dois autores.

Apesar de traduzir literatura por diversão, nunca fiz nenhum trabalho profissional nessa área, apenas traduzi alguns resumos, cursos, sites e textos. Gostaria muito de fazer, mas como tenho lido por aí em outros blogs, essa é uma parcela mínima do mercado e muito difícil de ser conquistada. Aliás, o mercado da tradução, todo ele, é difícil, principalmente aqui em Natal. Espero que algum dia ainda tenha o prazer e a sorte de trabalhar em uma obra literária.


sábado, 25 de julho de 2009

Il pendolo di Foucault


Uma página em branco. Por onde começar a escrever? É disso que quero tratar em alguns dos próximos posts, nos quais vou apresentar algumas traduções livres de primeiros parágrafos de livros (percebi que primeiros capítulos ficariam muito longos aqui). Posso também tentar explicar porque as fiz dessa e não de outra maneira, porque optei por uma palavra no lugar de outra, o que não é nada fácil fazer.

A primeira tradução vai ser de Umberto Eco, do seu livro “Il Pendolo di Foucault”:


Fu allora che vidi Il Pendolo.

La sfera, mobile all’estremità di un lungo filo fissato alla volta del coro, descriveva le sue ampie oscillazioni con isocrona maestà.

Foi então que vi o pêndulo.

Aquela esfera, móvel na extremidade de um longo fio fixado no arco do coro, descrevia suas amplas oscilações com isócrona majestade.


O que poderia comentar? Bem, logo na primeira palavra do segundo parágrafo, decidi provocar uma alteração, não porque desgosto do estilo do autor (não se trata nem de longe disso, adoro Umberto Eco), mas porque queria dar uma ênfase maior ao pêndulo. Então, em vez de escrever “A esfera”, optei por “Aquela esfera” e, em seguida, em vez de “abóboda”, escrevi “arco”. Eu sei que é mais feio, mas gostaria novamente de enfatizar o pêndulo e as características de seu movimento. Bem, não é uma tradução das melhores, nem das mais originais, talvez possa alterar um pouco o seu sentido, mas é assim que enxergo e foi assim que traduzi enquanto lia e, como disse, é uma tradução livre, sem preocupações comerciais, apenas pelo simples prazer de traduzir.


quinta-feira, 23 de julho de 2009

Podcast


Bem, gente, hoje não estou com muito tempo, mas gostaria de avisar que criei um podcast sobre línguas e literaturas. Lá vou postar lições de italiano, inglês e francês. Pretendo fazer uma de cada por semana e espero que dê certo. Acho que vai dar, porque decidi abraçar essa profissão virtual de vez. Comentem por lá também e me ajudem a desenvolver páginas cada vez mais informativas. E não se esqueçam, se precisarem de alguma tradução, me contatem!

O link para o poscast é: http://lectiones.mypodcast.com.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Onde está o concurso?


Ontem eu li no blog Tradutor Profissional que haveria concurso para tradutor juramentado no RJ e fiquei pensando há quanto tempo não há esse mesmo concurso no RN, meu estado. Tentei pesquisar no Google, na página da Junta Comercial e não encontrei nenhum registro que fosse de algum concurso para tradutor. Talvez possa estar sendo injusto, talvez tenha acontecido há pouco tempo, mas acredito que há muito não se realiza o tal concurso. Tenho inclusive um amigo que, me revelando com um certo embaraço, não passou por processo seletivo algum para assumir o posto de tradutor juramentado, apenas foi lá e se cadastrou. Não sei como isso é possível, mas ele disse que simplesmente o fez, mas logo mudou de assunto.

Eu até já tive vontade de prestar tal concurso, sempre tento me informar de alguma previsão, mas nunca tenho uma informação clara. O que será que acontece? Será que não conheço as pessoas certas lá dentro? Será que estou sendo injusto outra vez? Bem, com o advento desse concurso no RJ, espero que o RN também siga o exemplo, assim como o RS também, pois todos começam com a letra R. Não tem lógica?

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Alguém aí?


Eu estou escrevendo, mas será que existe alguém me lendo? Não faço a menor idéia. Bem, por enquanto, apenas duas pessoas comentaram: minha namorada e Denise. Quem está lendo o blog? Será que poderia comentar para me deixar ciente de sua visita? Estou pensando em postar alguns primeiros capítulos de livros traduzidos por mim, mas não valerá a pena se ninguém estiver acompanhando. Alguém se manifesta?

Esse fenômeno é interessante. Diante de toda a facilidade que se tem hoje para publicar seus pensamentos, fica difícil escolher o que ler e, quando encontramos o que desejamos, ou perdemos o endereço ou simplesmente não valorizamos. Eu mesmo leio vários blogs e só comento em poucos e algumas vezes, mas, depois que comecei a escrever, passei a valorizar mais esse meio e a repensá-lo como exercício de escrita. Tive vários deles, um chamado My day in four languages, onde escrevia mensagens sobre meu dia em quatro idiomas, para exercitar meu texto; tive um outro chamado Livres divagações, que está no ar, inclusive, com o mesmo objetivo e por aí vai. Escrevi alguma coisa e recebi pouquíssimos comentários, então desistia e partia para outro, até que estou aqui. Este blog é um pouco diferente, pois tem um propósito comercial: divulgar meus serviços de tradução.

Acredito que podemos fazer uma analogia ao mundo editorial. Entre tantos escritores, alguns bons nunca são encontrados ou são pouco divulgados, enquanto outros, horríveis, se destacam, como Stephenie Meyer, por exemplo. Por que deixar de ler Bram Stoker, Robert Louis Stevenson ou Stephen King? Não sei. Bem, como sempre, é uma questão de comércio. Edita-se o que se vende mais e é tudo. Desse mundo editorial, também fazem parte os tradutores, tradutores bons e ruins. Quem fica no mercado não é somente aquele que faz uma boa tradução, mas existem aqueles que cumprem prazos mais curtos e exigem menos retorno financeiro. Outro dia estava lendo um livro que foi traduzido do francês e cheguei a partes que não conseguia entender uma letra, mesmo estando em português! Será que o destino é priorizar sempre os maus escritores e tradutores? Espero que não.

sábado, 18 de julho de 2009

Título de filmes estrangeiros


Hoje fui ao cinema assistir "A era do gelo 3", adoro aquele esquilo. Bem, mas esse não é o tema do post, a questão é que no início do filme, pude ler seu título original: "Ice Age 3" e me dei conta de que são poucos os filmes que mantêem esse título, apenas traduzindo-o, pois a maioria prefere algo diferente e que possa chamar mais atenção dos brasileiros (acho que essa seria a justificativa). Por exemplo, anteontem assisti a um filme intitulado "American Gangster", que em português ficou "O Gângster", mas por quê? Ora, não faria o menor sentido para nós, brasileiros, que o nome do filme fosse Gângster Americano, porque provavelmente deixaríamos passar o fato de que, nos EUA, uma das maiores máfias - ou talvez a maior - é a italiana e que, o fato de se ter um mafioso americano (e negro, no caso do filme) dominando o mercado do crime era impensável nos anos 70. Vocês podem me perguntar: "quem é que não sabe disso, cara pálida?" Eu não saberia, mas claro que, após ver o filme, entendi o porquê do título. Também não posso dizer se teria me atraído por ele com seu nome original...
É tudo uma questão de comércio. Eu até me esforço para tentar entender algumas mudanças, mas algumas ficam realmente ridículas. Por que mudar o nome de "My Mom's New Boyfriend" para "Mais do que você imagina"? Bem, existe uma teoria: os responsáveis pela escolha do título (que, infelizmente não são os tradutores) têm várias caixinhas nas quais estão partes de títulos como "do barulho", "da pesada", "de risco", "secreta", etc. e outras em que encontramos "Uma turminha", "Resgate", "Passagem", "Vontade", etc. Eles vão puxando até encontrar algo que faça sentido, pois "Vontade da pesada" não faz o menor sentido, se bem que "Resgate de risco" é um pleonasmo dos grandes.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Não ao plágio!


A tradutora Denise Bottman, criou um blog e, no endereço www.naogostodeplagio.blogspot.com, ela expressa sua opinião completamente anti-plágio, em uma campanha que está sempre crescendo.

Eu apóio essa campanha e, no dia do antiplágio (um pouco depois, aliás), 17 de julho, faço aqui a sua divulgação e meu apelo para que exercitem sua criatividade e abandonem completamente a idéia do plágio! Não ao Copiar-Colar!

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Adaptações


Anteontem estavam traduzindo um questionário pessoal do francês para o português. Este quetionário ocupava exatamente uma página, qualquer linha além disso fazia-o pular para a próxima. É óbvio que isso não era por acaso, o autor do questionário se esforçou muito para que coubesse naquele limite e esse esforço, apesar de claro, comprometia o espaço no qual seus clientes iriam responder.
Juntei toda minha força de vontade e todo meu poder de síntese para traduzir e, mesmo assim, ultrapassei o limite em três linhas. Felizmente havia uma tabela! Consegui adaptar a tabela, que passou a ter três colunas e mantive a ordem de seus elementos. Depois de tanto trabalho, percebi que o problema de espaço havia aumentado, pois o espaço para resposta tinha diminuído. Comecei a pensar no que fazer e decidi que iria propor ao meu cliente um novo questionário. Passei a trabalhar na nova versão e ela ocupou duas páginas, mas ficou bem mais clean e agradável.
No momento de enviar a tradução, expliquei o porquê de ter criado uma nova versão e deixei a escolha em suas mãos, pois enviei também o primeiro arquivo traduzido. Fiquei um pouco apreensivo para saber o que ele acharia, se tomaria como uma crítica, etc. Mas a resposta não demorou:

"En ce qui concerne la traduction, les deux models sont intéressants. La première traduction est intéressante, par ce que tout est écrit en une seule page, mais la deuxième, comme tu la dis, donne plus d´espace aux clients pour répondre.
Actuellement, je ne sais pas laquelle des deux je vais utilisée, mais en tous les cas, merci de ton exellente iniciative, j´apprécie beaucoup."

E pude respirar aliviado...


terça-feira, 14 de julho de 2009

Pudor lingüístico


É interessante perceber as diferenças de uso da língua portuguesa e da língua inglesa, parece-me que o português tem um certo pudor lingüístico que existe muito pouco no inglês. Quem escreve em língua inglesa usa o verbo to be sem a menor vergonha, assim como usa também o to make. Hoje, por exemplo, li na etiqueta do meu short: Produzido na China. E me perguntei: por que não traduzir o bom e velho Made in China por Feito na China, ou no máximo, por Fabricado na China? É difícil encontrar nas etiquetas de um produto estrangeiro Produced in China.

Bem, o que quero dizer é que muitas vezes queremos enfeitar a nossa escrita, deixá-la mais pomposa e recusamos o simples, o óbvio, e deixamos de falar o que realmente desejamos, se concentrando mais na forma do que no conteúdo. A justificativa que inventei foi esse tal pudor que não sei de onde vem, essa vergonha de usar palavras comuns com medo de não ser considerado culto ou sei lá o quê. Engraçado pensar que um dos nossos maiores poetas usava palavras simples para expressar idéias belas e complexas, para se ter uma prova disso basta ler Carlos Drummond de Andrade.

O que vocês acham disso?

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Traduzir é trair?


Muitos dizem que traduzir é trair e apresentam sempre a seguinte fórmula: TRA(DUZ)IR. É claro que existem muitos problemas com tradução e, muitas vezes, se perde bastante com ela, mas todo tradutor opta por certa palavra em detrimento de outra tentando diminuir seu efeito negativo e transformá-la cada vez mais em uma 'transliteração' e cada vez menos em um exercício de reescrita. Poderia citar mil exemplos, mas vou citar apenas dois: as poesias de Nietzsche e a obra de Freud.

Na verdade, toda tradução da língua alemã para o português passa por um processo de deterioração e são necessárias muitas notas do tradutor para entendermos certos termos, principalmente se forem da filosofia. Os poemas de Nietzsche foram escritos com ritmo e rimas muito particulares. É tanto que a maioria das publicações em língua portuguesa são edições bilíngües, na tentativa de conservar a riqueza do original. Apesar disso, já li muitos livros que vêm do alemão e li ótimas traduções, como a de Sidarta, por exemplo, de Herbert Caro. Em contrapartida, encontrei péssimas traduções de livros que foram escritos em francês, cuja estrutura e cujo vocabulário se assemelham ao português.

Quanto aos escritos de Freud, muitos dizem que o apelo sexual excessivo encontrado em sua obra é feito dos tradutores, pois Freud não falava apenas de sexo, mas de uma energia já bem conhecida pelos orientais, chamada Kundalini. Bem, mas isso é, e acredito que sempre será, alvo de muita polêmica. O que gostaria de deixar bem claro é que: sim, a tradução pode ser um fator de empobrecimento da obra, principalmente se literária; mas, somente por ela tomamos conhecimento de um vasto mundo oculto em uma língua desconhecida ou podemos estudar os idiomas originais dos livros que desejamos ler.

Bem, a grande questão é que, apesar de tudo, a tradução é um meio bastante útil para tomarmos conhecimento dos livros que desejamos e é também uma oportunidade que temos para proporcionar e levar os grandes clássicos ao acesso de todos. Tudo isso que escrevi não é válido somente para a tradução literária, mas para todas as outras, sejam elas científica, técnica, geral, etc., porém em uma proporção bem menor, pois os termos técnico-científicos são, em sua maioria, originadas do latim ou são muito específicas e não apresentam problemas de interpretação, etc.; e, na tradução geral, a rima e o ritmo, ou seja, a forma, não interessa tanto quanto o conteúdo.

Para finalizar e deixar bem clara minha opinião sobre a tradução, uma frase de José Saramago: "Os autores escrevem as suas respectivas literaturas nacionais, mas a literatura mundial é obra dos tradutores".

domingo, 12 de julho de 2009

Tradução




Atualmente só posso traduzir em 3 idiomas: italiano, inglês e francês. Traduzo textos sobre qualquer assunto, tanto dessas três línguas para o português quanto o contrário, mas minhas especialidades são os textos literários, apostilas de cursos (atualmente traduzi, por exemplo, um curso de reeducação alimentar do francês para o português) e os resumos de trabalho científico.

O preço que cobro por cada tradução dependerá do número de laudas, mas também aceito trabalho por empreitada, mande-me um e-mail (igorbarca@gmail.com) e conversaremos sobre isso. Como estou iniciando no mercado agora, meus preços ainda são baixos, então aproveitem! Mas é claro que isso não influenciará na qualidade da tradução, pois sou muito minucioso e preocupo-me bastante com o que escrevo.

Apresentação


Meu nome é Igor Barca, estudo Letras com habilitação em Língua Francesa na UFRN e comecei a trabalhar com tradução há pouco tempo. Porém, há alguns anos sou professor de idiomas: ensino italiano, inglês e francês. Tenho paixão por línguas e já estudei muitas delas. Italiano, inglês, japonês, francês, alemão, sânscrito, tibetano, russo, todas já foram alvos de meus estudos, umas com mais aprofundamento outras menos, mas minha dedicação maior foi às três que hoje posso traduzir. É claro que já me arrisquei a verter alguns textos em japonês por divertimento, mas não obtive tanto sucesso assim. Uma grande admiração pelo oriente e por sua literatura me fez estudar as línguas orientais. Na verdade, aprecio toda literatura, leio bastante e me atrevo a ler os clássicos em seus idiomas originais: Umberto Eco, Italo Calvino, Rousseau, Sartre, Shakespeare, entre tantos outros autores. Além da minha paixão por idiomas, pelo ensino e pela literatura, sou bolsista de Iniciação Científica e já traduzi alguns resumos de trabalhos publicados. Como já disse anteriormente, não tenho muita experiência com tradução, mas sou bastante cuidadoso e tenho muita preocupação com a qualidade do meu trabalho.